Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2018

Heroína #13

Ela me traz a paz do gozo proibido. Danem-se os danças, os ditos e os riscos, eu só quero ela e um bom disco de rock estourando os tímpanos. Gosto quando ela joga no chão seu corpo nu pregado pelo suor que passa por transfusão para minhas veias.  É sexo, culto, verdadeira procissão de cheiros e toques, gemidos e sabores. Quando estamos, nós, transando sonhos pueris e orgasmos de múltiplas escolhas, entro em frenesi racional e tenho que fumar um cigarro para retardar o gozo. Ela reclama. Eu insisto. Olho pro lado e já não vejo a garota ou a droga. Nem mesmo o cigarro me acompanha, estamos eu e meus olhos observando o forro do teto branco sem lâmpada.

Maldito seja Freud #12

Pedro olhou no braço mais uma vez. O ponteiro há pouco dera origem ao minuto dezessete da hora seis. 6:17. O céu começara a escurecer no vitror da pequena sala onde só mais uma mesinha de bambu, algumas cadeiras com estofamento azul bebê e um quadro que parecia feito de guaxa, lhe fazia companhia. Ricardo, ainda tinha que fazer uma última consulta, "num pé lá, outro cá", como disse a Pedro antes de dar uma piscadela pro amigo e fechar a porta atrás  de e si e da senhora de uns 50 anos com cabelos negros como a noite. "Te espero aqui", foi o que Pedro conseguiu dizer antes que a fechadura batesse e caísse esparramado na poltrona azul olhando para o quadro.  Ali, depois de cansar de contar os segundos no relógio, resolveu pegar uma daquelas revistas espalhadas pela mesinha. Escolheu uma pelo olho gigante cor de âmbar que estampava a capa e começou a folheá-la. Parou numa manchete "Você conhece seu próprio sonho"? Não, ele não conhecia e começou a passar...

Subterrâneo do Ser #11

Esse sol dos trópicos confunde minhas ideias. Não que seria menos confuso nos Alpes, só mais fresco. Para ser diacrônico, me sobrou a anacronia do ser. Desci ao porão da solidão, quando os outros se divertiam na superfície comum. Queria ter muitos amigos, tive, quando me vi entre suas conversas, me afastei. Queria um amor. Tive vários e variados. Quando elas me fizeram sentir nas nuvens, quis-me jogar no poço de lama com os porcos, só porque eu podia fazer. Não busco o amor, só não quero ficar olhando para o teto. Tampouco corro atrás do ódio, odeio porque cansei de ficar com os braços cruzados. Quero ficar louco quando a razão tentar me aprisionar. Quero ser, e quando o for, que eu me desmanche, para reconstruir algo em cima, mais fútil.

Sagas e Sagaranas #10

A vida é um completo absurdo. Me perdoe Camus, mas às vezes me pego buscando explicação no sem sentido que passa, a todo tempo, sob meus olhos.  Mas, não é por mal. Quando não há ninguém por perto também penso em trivialidades como o amor. Larguei da namorada por que questionei o conceito ou meu próprio sentimento? Há amor em beijos e carícias entre dois corpos que pela madrugada trocam desejos e promessas, ao passo que no outro dia, ofegantes vestem a roupa do avesso e partem sem conseguir encarar o olhar do outro? Ontem saí decidido a encontrar o amor. Tentei diferente. Com amigos me vigiando, tentei encontrá-lo no copo. Na cerveja não vinha. Pedi algo mais forte e beijei o copo de aguardente. A mesma velha euforia seguida de confusão.  Procurei-o no tabaco. Um, dois, três, quatro... Já não lembro mais quantos cigarros foram. Ficou o amargo na boca. Na volta pra casa, caí de amores pela calçada, só dor de cabeça. Desisti de procurá-lo então.  Hoje ele chegou sem ba...

Desilusões graduadas ou Nem rima, Nem solução #09

Infância feliz. De dia era entre os amigos na rua jogando bola. À noite ficava entre os livros da coleção Vagalume. Nunca soube quando comecei a gostar das letras, para mim sempre foi apenas mais um passatempo. Na vida de criança a gente precisa de vários. Adorava a escola do ensino fundamental, a única que estudei dos 6 aos 14. Vi a escola com três salas, passar de 10 nos nove anos que fiquei lá, rindo, conversando, brigando, tendo as primeiras namoradas que nunca foram... No ritmo normal, mas que dá uma saudade quando você fica um pouco mais velho e volta sua vista para o passado. No ensino médio, outro ritmo. Aos 15, longe de casa, há 200 quilômetros do abraço de sua vó e sem nenhum vizinho por perto. A vontade de voltar era enorme, mas eu lembrava que estava numa escola boa que iria abrir as portas da percepção do futuro confortável e de todos que ficaram na minha cidade, com saudade nos olhos, mas orgulhosos por eu me estar "se tornando alguém na vida". Eu acreditei n...

Vigilantes do riso #08

Na definição do dicionário-algum-aí está escrito que o riso é uma contração dos músculos da face e está presente em diversos aspectos do comportamento humano e é provocado por sensações como, alegria, prazer, felicidade... Essa reação é involuntária. Dizem por aí que boi quando desembesta é difícil de prender, mas se tem alguma coisa que a gente tenta sempre em vão segurar, abaixando a cabeça, rangendo os dentes, segurando o queixo, é o riso.  Quem não está participando da piada, quase sempre olha de canto de olho, mordendo os lábios, a uma fagulha de perder a razão sem nem saber do que se trata, só por estar do outro lado do riso. Corre um boato por aí que o riso foi proibido na Idade Média, porque os padres, freis, bispos e toda a trupe da Igreja Romana, nunca souberam contar piadas e que por isso, demonizaram o riso. Dizem que rolou uma gargalhada geral no inferno quando souberam dessa. E que Jesus foi contra. Mas, acho que é conversa fiada. Depois que o riso deixou de ser ...

O inferno é uma bola #07

Deve ser pecado pro 9º círculo do inferno de Dante, torcedor dizer que têm dois times. É impossível alguém não torcer os lábios pra quem diz uma coisa dessas. Ainda mais duas equipes do mesmo país! Sempre vão olhá-lo como se você não entendesse o espírito da coisa. Um lunático, um ignorante, só pode ser um pervertido! Mas tenho que confessar, meu coração também bate por outras cores. Não, não é que não ame o meu time do coração. Não, eu não quero trocar entende? Duvido que nu nca tenha passado por uma situação dessas. Ah, nunca soube que trair seu clube de coração é crime inafiançável, nem o diabo tolera. Que eu procurasse a bíblia ou a constituição, certamente estaria dentre as cláusulas especiais. Como deixei acontecer? Não sei, aconteceu sabe, carinho antigo. A culpa foi do meu padrasto que sabendo que eu já havia selado um compromisso com o alvinegro paulista, me trouxe uma camisa do tricolor carioca, a qual eu vesti em algumas ocasiões, pela minha pouca idade e para não desapont...