Pular para o conteúdo principal

Postagens

Objetivos

 O loop da montanha russa que nos leva a certeza da estagnação e quando se vê, pluft, é possível andar em um carro pilotado por inteligência artificial, apesar da miséria cada vez mais espetar os corpos de milhões. Coloca-se a cana no moedor de cinco roldanas e ainda se espera a não-violência, a sobriedade e que ainda seja doce.  As experiências são menos individuais do que se pode pensar. É coletivo. A ética, o amor e a ciência não podem florescer de maneira adequada enquanto o pensamento básico é sobreviver. Todos os dias há uma afronta a sanidade mental de cada indivíduo, mas não de forma individual.  Há problemas objetivos que merecem ações objetivas. As ações diversas de completos antagônicos carregam a mesma frustração, de não ser aquilo que se pensava. O destino é o mesmo, que se num primeiro momento conforta, no seguinte desperta a aceleração dos cálculos mentais pela solução parecer não existir. Há vendedores de ilusões, mas como se convence alguém da charlatanice descarada qu
Postagens recentes

Kush e Corinthians

 Há um ritmo para cada momento. As letras expressam essa máxima. Sua velocidade tem diminuído e aquela verve anterior se perdeu entre outros hábitos e vícios. Naquele tempo talvez se acreditasse que era possível ganhar o jogo. As respostas não estão nas linhas, estão nos círculos que dificultam a visão quando entortam a curva do passado e não há certeza se de fato aconteceu. Tudo parece vindo de outra vida. É necessário ocupar o tempo com desejos que invariavelmente lhe conduzirão à incompletude e a ansiedade de algo que já conhecemos.  A biografia de Prestes e o romance de Zola distraem. As cartas fazem a cada dia alguém sorrir mesmo que apanhando em todas as suas circunstâncias, mas há algo ali: jogando correto a derrota pode vir, mas com piores jogadas sempre se abre aquele espaço no fundo do poço. A mudança é permanente, mas nem sempre permissiva. Não há nada de novo por aqui. Mas há outras tantas coisas que eletrocutam o córtex, que sempre estiveram presentes, mas que no momento d

Presente do indicativo

Fomos muitos, mas em que ponto deixamos de ser esses tantos para nos tornamos outros. Ou sempre os mesmos num círculo imaginário. Um acorde musical te guia para lembranças de um passado recente. Onde o ontem parecia melhor que o amanhã e assim por diante. Postes iluminados virados para o oeste, para o pôr-do-sol, para o que se passou. Os fins tornam-se objetos de valores mais altos que os começos. O fim carrega consigo o caminhar a contra ritmo em fatos já passados. Pelo menos conhece-se o inimigo. Mas e o agora? O caminho para onde o nariz aponta é tortuoso e vário. Pensar que não se pode ser aquela pessoa que tanto se sonhou pode significar a apoteose da consciência. Não poderei ser o homem que primeiro pisou em Marte. Ufa! A marcha às vezes é lenta como se sempre houvesse tempo e por vezes acelerada pelo pavor do nunca mais. As métricas estão em revolução e não há possibilidade de fazer tudo, mas tem tantas coisas e tantos que se queria ser... Quantas batalhas internas deve-se lutar

A Cerimônia Secreta

 Os olhos se moviam mais depressa que o normal. Seu estômago apesar de vazio tinha o frio cortante do baço. Seus dedos finos faziam movimentos involuntários. Tudo por uns sussurros. Sussurros que os mais velhos mantinham pelo olhar de um segredo compartilhado com alguns escolhidos. Nem todos. Nem todos percebiam essa comunhão aos eleitos de que algum evento importante se aproximava. Alguns sim. Mas só um deles se aproximou e sem disfarce mostrou que tinha interesse em saber. As luzes de fora estavam iluminadas apenas pelas motos dos guardas. Já haviam passado o horário da chamada. Só era possível sair do alojamento por alguns minutos para beber água do bebedouro do setor. Os novatos haviam chegado no fim de semana e puderam ver os diferentes carros e amizades construídas que iam se afunilando entre os outros, enquanto eles tremiam de exultação e pavor. Outros homens se aproximaram das lideranças daquele alojamento. Ia acontecer. Era só passarem pela vigilância do senhor Domingos e de s

Passos largos demais

  O quadrado de papelão deslizou do plástico arranhado que cuidadosamente foi dobrado e depositado na estante. Uma placa circular preta começava a despontar da capa e a mulher a retirou com as pontas dos dedos e a colocou sobre uma caixa amarronzada. Quando a agulha riscou as primeiras linhas circulares houve um crepitar de lenhas secas e ouviu-se enfim o primeiro acorde daquele saxofone-tenor. Com os olhos semicerrados ela caminhou alguns passos até a mesa de jantar e sentou-se na cadeira da ponta, completando uma taça oval pela metade com uma garrafa de vinho tinto que havia sido tirado de antemão da pequena adega da sala-de-estar. Aquele ritual lhe lembrara a juventude, bem antes de defender a dissertação sobre o trágico em Aristóteles. Sempre que colocava aquele disco de jazz sentia um torpor melancólico que a levava a abrir o diário e escrever sobre tudo o que sentia naquele estado de levitação espiritual. Lembrou-se da universidade, de uma época de bons momentos em sua vida. Do

Anamnese aquática

 A água não é fria. Os primeiros movimentos carregam a ansiedade de chegar ao fim dos longuíssimos treze metros. Há alguns meses, não no mesmo cenário, a água gelada e espessa quase sorveu o último suspiro. Respira. Apertar a fivela de borracha na touca negra. Por mais tempo que demore, o impulso não furta de ser impaciente. Silêncio e o balançar de membros inferiores e superiores em uma direção reta. Três braçadas. Cabeça torta para o lado. Respira.Os movimentos apressados demonstram uma insegurança, mas o corpo bóia e avança. Três braçadas. Ou terá sido apenas duas? Boca aberta na busca de uma direção que seja a oposta da primeira. Os óculos estão embaçados, mas a água no azulejo azulado e as vozes de uma mãe avisam no exato momento que a mão toca a superfície sólida. Não foi tão ruim assim.  Mergulho. Mais silêncio, um silêncio maior de como se tudo não existisse, apenas um som surdo que só é eliminado, antes do desespero tomar a conta e o medo de que talvez o corpo não volte por si

Até mais!

 Sebastião. Ou Bastião quando sua mulher o chamava. Ou apenas "fio"  por todos, desde os pescadores que ali, onde fora o epicentro da minha adolescência, na sua casa-conjunta a um bar, padaria, pastelaria, lugar de primeiras aventuras quando reuniam os filhos e filhas da pequena vizinhança.  Sendo um santista que viu deus jogar e, portanto, nunca vai acreditar em doutrina, me fez reforçar meu ânimo alvinegro rival. Nunca quis nos doutrinar para sua caminhada quase solitária, com exceção de seu filho mais velho nome de um dos maiores daquela Alemanha de 74, gostava de estar assim e foi muito feliz, se me permite daí, vendo o time campeão em 58, e aquela Copa do Brasil de 2010, Neymar e Ganso, aquilo era uma época boa! Ah, meu amigo, sinto que me tornei um saudosista e que bom que muito parecido com você. Aquela, a de há até poucos dias atrás, de "Quanto que foi o curintia?" Eu provocava "E o Santos, fio? Caiu ou não cai?" E baixava os olhos, saboreando a es