- Pare de escrever essas bobagens e vá procurar um trabalho de verdade! Mário mantinha o olho para a fumaça que escorria para fora da panela de sopa e esboçava um sorriso silencioso onde se tivesse, esconderia o rancor pelas palavras que Elisa insistia em dizer todos os dias bem antes do marido alçar a colher de metal fuliginoso para atrás dos dentes. Era sempre essa a trilha sonora do jantar, desde que Mário fora demitido do seu cargo de bancário no mês passado quando, sem contar a esposa, passou uma semana preferindo frequentar pelas manhãs a livraria do Seu Aluízio ao invés de dar as caras no banco. A esposa só ficou sabendo porque o senhor Ribamar tinha ligado na sexta na hora do almoço, justo no fim de semana que Elisa não precisava ir à casa da Dona Mercedes fazer a faxina, porque a senhora tinha ido para a praia. Ouviu a voz grave do outro lado da linha e antes de responder chegou a ficar irritada por alguém ligar uma hora daquelas procurando saber de seu marido ...
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