Historicamente, as greves foram responsáveis por melhorias em diversos setores no Brasil. Desde a primeiras greve geral dos operários na Primeira República em 1917 até a última greve dos caminhoneiros em 2018, houve diversas manifestações de trabalhadores por melhores condições de trabalho. Essas paralisações, ainda que muitas vezes não produziram melhorias satisfatórias aos envolvidos, serviu para que o governo ou o patronato desviasse a atenção para as demandas trabalhistas, já que a produção depende fundamentalmente dessa classe.
As Universidades Públicas no Brasil também fizeram paralisações, principalmente nas últimas décadas que conseguiram melhorias pequenas mas importantes para o andamento do ensino universitário. A última em 2016, fez com que parasse cerca de 35 instituições federais e estaduais de ensino como resposta sobretudo à aprovação da PEC 55, que congelava os investimentos à educação e a saúde por vinte anos. A greve durou várias semanas, mas a PEC foi aprovada em dezembro.
Hoje, em 2019, o Ministério da Educação tragicamente é comandado por um ministro incapaz de propor quaisquer melhorias ao processo educativo, mas que por outro lado é eficiente em propagar teorias de conspiração que formam base para diminuir os investimentos públicos na área. Como a última, mais grave, que o ministro amparado pelo presidente, sugeriu que nas Universidades Públicas não haviam desempenho científico satisfatório e sim, “balbúrdia” com alunos pelados dentro da universidade ou coisa que o valha. Assim, na última semana o MEC anunciou um corte de 30% a todas Universidade Federais como retaliação a manifestações públicas ocorridas em alguns campi.
Se a situação após a PEC estava muito ruim, agora está quase insustentável. Muitos alunos dependem da verba de assistência do governo para se manter, isso sem falar dos investimentos na ciência que serão reduzidos à níveis agonizantes. Diante disso, é hora dos estudantes, professores e outros técnicos se juntarem e anunciarem uma greve geral?
Numa resposta curta, depende. Depende porque uma paralisação dos serviços de uma universidade pode ser exatamente o que a situação que provocou o corte quer.
Os 30% do corte não foi dividido em todas as áreas de educação, sendo exclusivamente destinado ao ensino universitário federal. Não é coincidência, pois nesses espaços é onde o atual governo é mais contestado e uma greve, pode parar essa produção e de um modo indireto, atender as expectativas do governo e ainda lhe dar motivos para atacar os estudantes, sugerindo que esses movimentos partem especificamente de também cursos que não são de interesse do governo, como foi o caso da proposta de Fim das faculdades de Filosofia e Sociologia.
Além disso, de que greve estamos falando? Não pode ser outra, como tantas que não provocaram grandes conquistas, ou seja, uma greve acadêmica. Onde estudantes e alunos paralisam as aulas, colam faixas nos portões da universidade, fazem comícios no auditório inflamados pelo espírito da revolução, que no fim finda em si mesmo. A Universidade, e todos que nela habitam, tem que fazer o que nunca gostou de fazer. Descer do palanque e tratar o cidadão que olha de esguelho para aquele portão com dignidade e respeito, para que os outros trabalhadores se sintam partes daquilo e compelidos a lutar juntos, como aconteceu no Movimento dos Caminhoneiros (2018), se houve quem criticasse, muitas pessoas que não eram caminhoneiros se sensibilizaram e apoiaram a causa, o que foi uma das razões da greve ter sido ao menos tratada com seriedade pelo Planalto.
Ouvir é uma habilidade sábia. Começa com os técnicos terceirizados e os seguranças da próprias Universidades, o que eles acham? Por quê eles tem de apoiar a sua causa? Criando um senso de identidade com a população, a greve pode ter ganhos para as Universidades. Do contrário, servirá para atrapalhar o serviço dos terceirizados e adiantar as férias de alunos e professores.
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