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Mostrando postagens de agosto, 2019

Impotência é foda! #53

Impotência. 1. falta de poder, força ou meios para realizar algo; impossibilidade. 2. incapacidade, esp. masculina, para a cópula; falta de potência sexual. Essas são as definições encontradas num dicionário de internet. Do dia para a manhã que acordei ao contrário na cama sem saber como fui parar aí, estou assim. Não acho que seja pelo fato de eu ter dormido com a cabeça onde costumo colocar os pés, mas de uma hora para outra não consigo mais escrever.  Parei o meu colega de quarto e disse com o desespero tremendo a voz: “Não consigo mais escrever!” Ele virou os tirou os olhos por um segundo do último prato que faltava enxaguar na pia e disse com um riso meio sem-graça: “Ué, escreve sobre bater uma bolinha na parede”. Olhei para minha mão e estava uma bolinha de massagem verde amassada. Voltei para o quarto cabisbaixo, não era assim que funcionava as coisas.  Acendi um cigarro, apaguei sem fumar. Bebi água porque pensei que podia estar desidratado, depois bebi café porqu...

Bença, vô! #52

Sua face sólida e seus bigodes grisalho sempre me fazia baixar os olhos quando me encarava. Seus olhos, geleiras verde-acinzentadas num fim de tarde da solidão polar. Nunca os olhava de frente, nem mesmo hoje, quando tento os descrever olhando seu quadro vivo na recordação. Mãos ásperas e duras e dos seus braços reluzia um dourado desbotado que contrastava com sua descendência caucasiana. Braços de luta no campo, onde o cabo cheio de calos da foice encontrava o de seus dedos, que nunca soube domar uma caneta. Tudo bem, o alimento nunca foi cultivado nos livros. Ali, as montanhas das gerais o vigiavam de longe, a mata de perto, enquanto derramava suas primeiras gotas de suor no chão de barro seco, ainda na tenra idade de seis anos, conforme gostava de lembrar. Suas pernas eram curtas e brancas, com as noites que viriam a seguir, quando ainda na mocidade saiu de casa depois de brigas e teimosias, dele e do pai. Pernas estas, que o levou a São Paulo em busca do ganha-pão, antes do re...

Lotocracia #51

O sol batia às 14 horas e não sei quais minutos, saí de casa sem olhar pro relógio. Fui tranquilo pagar a conta, de férias, tenho todo o tempo do mundo, pensava. Até ver a fila que cruzava o passeio e entrava dentro de um manequim com chapéu de aba torta e cachecol. "Mas vamos lá, passa rápido". Lá dentro havia um enxame de formigas com roupas e pensei em como encontrar a fila, se há tanta gente. De vez em quando saia um, entrava dois ou três velhos e o fogo à acertar os miolos.  Só mais uma passo e, pimba! Agora eu estava lá dentro. Cada minuto um centímetro, o relógio marcava três horas e agora eu fazia parte do bolo de gente babando por um caixa livre. "Não, não vou desesperar. Já já chega a minha vez". Um ventilador girava lento no teto e o ar condicionado desligado, no meio da fila havia alguns velhos com papéis de tantos jogos que não cabiam no bolso, "Pra que aquele velho de bengala que não dá dois passos firmes, quer tantos milhões desse jeito?"...

Don't think twice, it's all right #50

Maldito Walter Benjamim! A culpa é sua e toda sua. Eu deveria era ter faltado a  aula e ido assistir a tragédia ludopédica em zero a zero entre Paraguai e Catar ou ido para o prédio aglomerado de estranhos para cheirar fumaça com bala de menta e beber uma, duas, três, quantas cervejas forem para acabar com o tédio de uma noite, não precisa lembrar que eu não bebo, tá? Mas, não. Fui a aula como um bom samaritano e aí misturei ciência com metafísica. Achei que devia não ouvir o poeta por um tempo e dar uma chance para o academicismo explicar as relações humanas.  Traí a literatura buscando a experiência no outro que não veio. Que só quis rir um pouco e passar uma tarde de céu amarrado ao lado de alguém. Enquanto minha mente foi entrando em caminhos que deveria esquivar, mas caí. No lamaçal eu estava quando me dei conta, é frio e silencioso do jeito que alguém um dia me disse. E agora? Você sumiu, encontrou outro alguém, casou, teve filhos, o riso acabou, a noite apagou, o barco...