Impotência. 1. falta de poder, força ou meios para realizar algo; impossibilidade. 2. incapacidade, esp. masculina, para a cópula; falta de potência sexual. Essas são as definições encontradas num dicionário de internet. Do dia para a manhã que acordei ao contrário na cama sem saber como fui parar aí, estou assim. Não acho que seja pelo fato de eu ter dormido com a cabeça onde costumo colocar os pés, mas de uma hora para outra não consigo mais escrever.
Parei o meu colega de quarto e disse com o desespero tremendo a voz: “Não consigo mais escrever!” Ele virou os tirou os olhos por um segundo do último prato que faltava enxaguar na pia e disse com um riso meio sem-graça: “Ué, escreve sobre bater uma bolinha na parede”. Olhei para minha mão e estava uma bolinha de massagem verde amassada. Voltei para o quarto cabisbaixo, não era assim que funcionava as coisas.
Acendi um cigarro, apaguei sem fumar. Bebi água porque pensei que podia estar desidratado, depois bebi café porque eu podia estar cansado. Pensei em beber uma cerveja pra relaxar, mas eu tinha que ir pra aula, não ia dar certo. Abri o jornal, andei pela casa, sai para comprar pão, abri um livro, bebi mais um pouco de café, tomei banho frio, depois outro quente, apaguei a luz, fiz abdominal, flexão, plantei bananeira (mentira, isso eu não consigo fazer) arrisquei tomar um chá com amora e sal grosso, mas eu não tinha amora em casa e não achei no supermercado. Nem uma linha, nem uma ideia por mais de um minuto ficava na cabeça.
Arrisquei ir num postinho do SUS, aquilo já durava semanas. Estava vazio, sem ninguém. (Que plot twist, hein?) Tinha bastante gente, mas esperei paciente, aquilo tinha que acabar. Horas olhando para a televisão na tecla SAP, até que enfim me chamaram e que quase perco a vaga pra um senhor que já foi levantado de mãos dadas com um garoto, a justificativa dele foi a melhor: “É que às vezes chamou o meu neto ao invés de mim”. Sorri para o velho e perguntei para o menino que não tirava o indicador da boca: “Também chama Gabriel?” O velho falou apressado: “Não, Marcos Paulo. Mas é que na escolinha ele tem um amigo que chama assim”.
Olhei para a cara do careca de óculos do outro lado da mesa. Ele perguntou o que eu tinha e eu já fui direto: “Tenho impotência”. O outro se assustou com a cadeira pulando pra trás. “Mas, tão jovem”. Ele depois discorreu sobre que deveria ser coisa da minha cabeça, (alerta de piada infame) e me deu 1/4 de um comprimido azul niágara. Resumindo, voltei pra casa e tô olhando pro teto com o coração que nem o Olodum e a calça esticada no zíper, ainda sem conseguir escrever nada.
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