Os pássaros me lembraram que eu deveria ir ao banheiro. Não por uma necessidade fisiológica mais por uma curiosidade de estar ali. Foi paixão à primeira vista. Aquele era o banheiro perfeito, com azulejo pequeno e oco, um espaço vago para encher de livros, tal qual Pierrot do Godard, tá ligado? Sento na privada e penso sobre a minha vida. Daqui a pouco vai amanhecer e talvez eu consiga fingir que dormi que nem um anjo. Volto para o quarto de taco e acho aquele apartamento ideal se um dia eu pudesse pagar um apartamento daquele. Aos pés da cama, ouço os pássaros e meus olhos guiam para a janela cercada pelas grades de proteção. Olho para a geometria disforme dos prédios que se avizinham com seus respectivos apartamentos e tento identificar um crime cometido às pressas assim que a manhã se espreguiça. Ah, se eu tivesse um binóculo! Olho para o prédio em frente, as cortinas estão abertas e posso ver a sala-cozinha que fica na outra ponta da rua com um barril de Heineken em cima...
Contos, crônicas e outras histórias