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Mostrando postagens de julho, 2019

Buenos Aires Visited #49

Me senti em casa com visto de turista e voltei pra minha pátria estrangeira Vai ver por ser a Paris na América Eu que sempre quis viver no velho mundo Caí no feitiço da velha forma de viver Pizza, cerveja e cigarro Não sabiam quantas derrotas eu havia sofrido Não perguntavam quando é mesmo que eu iria arrumar um trabalho Num instante gozo, passou Voltou comigo na bagagem, a sensação; casa, mulher e um emprego estável Ah, mas como tem sorte os portenhos! Só aqui, na língua que me dizem ser mãe Existe a palavra "saudade"

Adeus, Marvin #48

Foi em uma sinistra e nublada noite de quarta-feira que vi, a poucos metros de onde me encontrava, a oportunidade que esperava há anos. Mesmo após tanto tempo do ocorrido, o sentimento adormecido incendiou meus olhos, ao ver a notícia de que o diabo agora estava tão próximo: mandá-lo ao inferno deveria ser minha missão, pois se não fosse, eu já não saberia mais o que seria.  Me esgueirei pela porta do Le Petit, um finíssimo café pairisiense, procurando não ser notado para que assim o plano seguisse conforme o planejado. A casa estava cheia de diferentes personalidades da alta burguesia, e demorou alguns minutos para observar minha vítima, e mais algumas horas que pareciam eternas (além de outros tantos cafés que tomei) para que meu plano pudesse dar enfim seu primeiro passo.  Allan acabava de sair do café com sua filha, Clarisse Lambert, e ambos caminhavam tranquilamente pela larga calçada quando foram surpreendidos por um jovem totalmente alucinado que, sem anunciar qual...

Adeus, américa! #47

Fritz estava parado há alguns minutos a comparar a foto desbotada na palma da mão com a fachada a sua frente que não a ser pelo dourado no fundo negro com os mesmos dizeres de "Corcovado Club", de nada lembrava a bossa de outrora. Nas grandes telas espalhadas pelas paredes de tijolos à vista ecoava uma linda mulher morena com roupas e dançarinos no ritmo do que descobriu ser "o funk carioca".  Ali, vinte anos atrás se realizou um espetáculo que mudaria sua vida. Como a juventude esgota as energias numa só badalada, o concerto que selaria a paixão dos trópicos daquele romance que nasceu no velho mundo, acabou por desencontrá-lo. Durante duas semanas ficaram Fritz e sua amada entre beijos salgados de Copacabana e chopes gelados na Barra. Como tudo era mais vivo no país tropical! Até que ela esbarrou no "Ho-ba-la-lá" e ganhou dois convites para o espetáculo que ocorreria naquele café da foto, mas Fritz se perdeu no combo futevôlei + churrasco na casa daq...

Por amor às causas perdidas #46

São tempos sombrios... De uns tempos pra cá, comecei a sentir que essa frase fazia cada vez mais sentido, bem mais até de quando eu a ouvi pela primeira vez, numa daquelas quintas-feiras em que todos, exceto os que não o fazem, se amontoam em sofás e bares para ver a seleção canarinho em busca de um novo título mundial que traria uma brisa de tranquilidade para um país à deriva em uma mar de crises. A vitória não veio. Pior! Veio uma derrota amarga e construída no início com um a zero logo aos 13 do primeiro tempo e que nossa seleção se mostrou cansada e desacreditada não conseguindo realizar sequer algum ataque bem-sucedido. Parecíamos um velho elefante de circo, que já sem forças para confrontar seu algoz, impacientemente esperava que tudo acabasse depressa. Porra! – Pulou do sofá meu avô gesticulando sem escrúpulos como um ítalo-brasileiro que não perdeu todos os hábitos de sua terra natal. Só minha avó não ficou satisfeita e correu ao encalço de seu companheiro que com seus gest...

Merda, sou lúcido! #45

Quando ainda minha cabeça repousa no lençol azul lilás na cabeceira de meus sonhos pueris, há um e mais tantos que já estão acordados horas á fio calejando suas mãos no solo seco. Ao ler o jornal pela manhã, há o que não consegue decifrar os códigos mais simples da língua e o morto da página 4.  Com a xícara de café nos lábios, sempre haverá uma mãe pedinte, desejosa de mais algumas moedinhas para que o dono da padaria lhe conceda meio copo de leite morno. O som doce das notas suaves de Bill Evans chega aos meus ouvidos, é o tempo exato que a menina olha para o céu e roga a Deus para que o pássaro marrom pie mais alto, tão alto quanto a turbina de um avião, pois é o único som que ultrapassa as barreiras do seu ouvido. Um pedreiro acaba de cair do andaime, um caminhão desgovernado acerta em cheio a velhinha que saíra para comprar tomates, uma bomba explode próximo a uma escola síria. O coveiro está sempre de hora extra. Estou jogando gargalhadas aos ventos sobre banalidades q...