Quando ainda minha cabeça repousa no lençol azul lilás na cabeceira de meus sonhos pueris, há um e mais tantos que já estão acordados horas á fio calejando suas mãos no solo seco. Ao ler o jornal pela manhã, há o que não consegue decifrar os códigos mais simples da língua e o morto da página 4.
Com a xícara de café nos lábios, sempre haverá uma mãe pedinte, desejosa de mais algumas moedinhas para que o dono da padaria lhe conceda meio copo de leite morno. O som doce das notas suaves de Bill Evans chega aos meus ouvidos, é o tempo exato que a menina olha para o céu e roga a Deus para que o pássaro marrom pie mais alto, tão alto quanto a turbina de um avião, pois é o único som que ultrapassa as barreiras do seu ouvido.
Um pedreiro acaba de cair do andaime, um caminhão desgovernado acerta em cheio a velhinha que saíra para comprar tomates, uma bomba explode próximo a uma escola síria. O coveiro está sempre de hora extra.
Estou jogando gargalhadas aos ventos sobre banalidades que já não me lembro. Mas, sou lúcido. Não há quem eu inveje mais, só por não se parecer comigo. Sou lúcido. Há contas não pagas dentro de mim que nem se todos pedintes se juntarem pagarão as despesas. Não há água que molhe, ainda que a superfície, esse grande deserto de alma humana.
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