Um dia, desses de inverno em que não se tem nada a fazer encontrei as palavras rabiscadas com letra desengonçada e endereçadas à Joana, e começava os dizeres com o tratamento carinhoso de querida que se transformava nas linhas seguintes, em cruel, covarde, injusta, volta para mim joana pelo amor de deus, era a súplica da última linha. Olhei para os lados e com o caderno encapado verde aberto, procurei o remetente que poderia estar voltando para buscar as confissões que não queria lembrar e que ficara caída naquele banco do parque. Nada. Apenas um cão brigava com um tênis de um ciclista desavisado. Cada página daquele caderno tinha uma data de dia e mês e os pontos azuis que sobressaiam na outra página branca dava a impressão que tinha sido escritas aquelas palavras com a força do grito que não pudera dar. Algumas folhas apresentavam passagens calmas e racionais, como: Tive uma festa surpresa no trabalho, aprendi a nadar no parque da Cantareira, voltei assinar aquele clube do vinho q...
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