O agricultor planta o trigo que depois vira pão e chega quentinho da padaria. O professor ensina a ler, escrever, contar e até a diferença de briófitas e pteridófitas. O médico o examina de longe e dá logo um atestado de virose. E assim segue, nas mais diversas profissões comuns que a gente vê no dia-a-dia.
Diariamente precisamos de comer no café-da-manhã, fazer uma avaliação aqui e pegar um atestado ali, assim parece que racionalmente as profissões e seus produtos se conectam. Mas afinal, para que serve a literatura?
Alguns dirão que é para distrair, naqueles dias em que a internet insiste em não funcionar no sítio longe dos amigos. Muitos dirão que não sabem e outros constataram que literatura serve como um facilitador para textos mais difíceis quando for mesmo à serio, ou seja, na universidade ou num emprego de escritório. Não serve para nada, pode escapar de bocas intelectualizadas.
É possível viver sem literatura? Angustiante, mas essa sobrevida é possível. Há aqueles que simplesmente não se interessam pela coisa, mas o desconsolo é saber que há tantos à volta que nunca puderam decifrar um simples código riscado em preto naquele papel. “Que exagero!” um primeiro pode gritar ao que seu colega de lado que complementa irônico que para se viver é preciso pão, roupa e um lugar para morar e há tantos que sobrevivem sem isso.
A boa literatura não alimenta o corpo, mas enriquece a vida. - E se o que você está lendo não te incomoda, seja pela linguagem, tema, personagem, cronologia ou título ou todos num só livro, desculpe, mas não é disso que trato por aqui - Por exemplo, sem fontes verificáveis, desconfio que no tempo dos primeiros hominídeos como no reino animal em geral, o sexo é algo que foi descoberto sozinho. Mas, a transa animal é maquinal. Se dois indivíduos leram Baudelaire ou Bukowski por exemplo, a transa é totalmente diferente e já começa no toque da unha nos lábios ou no olhar de longe de alguém com quem nunca se trocou palavra. Uma mulher oprimida pela sociedade machista pode chegar a velhice sem se dar conta de que isso é antinatural, experimente mostrar um livro ou dois de Simone de Beauvoir ou Virginia Woolf para ver. O amor é por vezes falho, inconstante e opaco e ao ler tantos poetas de lugares muitos, percebemos que não somos os únicos a não ser correspondidos e nos aproximamos do outro. É também o livro de literatura que nos mostra que o mundo não foi “sempre assim e sempre vai ser”, Orwell, Bradbury, Huxley e Philip K. Dick - só para ficar nas distopias mais psicodélicas - nos dirão que se não agirmos ainda pode piorar, sempre pode. Perguntar que falta faria a literatura é questionar a validade do porque, por exemplo, existe a língua. É possível viver a grunhidos, mas isso empobreceria profundamente a nossa existência.
A literatura não purifica o ar pesado e cinza que se respira, mas ela te faz pensar por que diabos eu tenho que respirar esse ar imundo?
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