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Mostrando postagens de março, 2019

O gol que matou meu avô #31

Silêncio! Era o que dizia a placa na parede branca ao lado da porta também branca do quarto 312. Era o primeiro domingo do mês de março, dia de visita ao meu avô no hospital. Já fazia alguns meses que eu ia vê-lo desde que teve que ser internado por um problema sério do coração. Desde então ele ficara no 312, em que cada dia um de seus filhos e netos passava uma tarde com ele, enquanto isso ele tinha a companhia de Anita, uma jovem pouco mais velha que eu que ficava de acompanhante pelo dia e Gilmar e seus bigodes, que em poucos minutos já estava babando na poltrona bege até que a manhã chegasse. Eu gostava de ir aos domingos e levar chocolate e balas de caramelo escondidas nos bolsos. Quando eu chegava meu avô, ainda olhando para a janela balançava os braços para a Anita e dizia: - É o Pedrinho, não é? - Sem esperar a resposta dela  com o pescoço buscando a porta mas o corpo ainda para o outro lado dizia com um sorriso: - Pedrinho, é hoje que nosso timão ganha! Estou com es...

Gosto é gosto #30

Eu gosto de ler. Mas, tem horas que eu queria não ter visto aquela notícia. Eu gosto de fechar os olhos, só que há momentos em que é preciso olhar para a frente. Eu gosto de olhar para o futuro e suas possibilidades, lembra daquele tempo bom da juventude? Eu gosto de ser jovem, o que me chateia é olharem de cima para baixo, como se eu não fosse capaz. Eu gosto da responsabilidade, só não sabia que tinha sigla pra decorar, IPTU, IPVA, PIS/PASEP e CNH. Eu gosto do espontâneo, mas assim nunca vou me formar. Eu gosto de estudar, mas em fim de período eu só queria relaxar e gozar. Eu gosto do sexo, o ruim é querer dormir e ter de conversar. Juro pra você que gosto de te amar. Você só não precisa concordar comigo. Eu gosto quando me ouvem, com você em silêncio o tempo todo, acho melhor a gente nem começar. Eu gosto de ouvir, só não quando falam sobre o que devo fazer da vida quando volto pra casa. Eu gosto de estar na rua, sou só, mais uma multidão num rosto. Gosto dos contatos do dia-a...

Aquela capa de chuva azul #29

Era noite de fevereiro e a chuva de verão batia na janela da sala, mas eu vi por entre as gotas que atrapalhavam a transparência do vidro, mesmo assim, vi sua capa de chuva azul.  Na esquina do prédio residencial, encostado a parede lá estava ela, com apenas uma parte encoberta pela capa à mostra sob à luz do poste que piscava. Beatriz saiu de casa com uma despedida amigável e um beijo na testa, mas os pulinhos que deu antes de descer as escadas me pareceu mais interessado do que simplesmente jogar cartas e beber chá na casa de Lúcia. Ela sempre me puxava para alguma concerto que eu evitava e alguma peça de comédia que eu dizia que já havia visto, mesmo ela jurando que era inédita. Mesmo assim, teimo a pensar ainda nesse momento enquanto lhe escrevo já sabendo que ela deve estar aninhada por debaixo de sua camisa branca aberta, que o que fez ela te procurar foi sua capa celeste. Ela sempre pretendia que conseguisse uma capa de chuva, pois achava sério demais o meu guarda-chuva pre...

País em frangalhos #28

Se amanhã o homem responsável por guiar a carroça de roda quadrada do Brasil, anunciasse um programa com pretensões de proteger o país do inimigo estrangeiro, com o nome “Brasil seguro”, que lhe dá o direito de prender qualquer cidadão considerado inimigo da nação, a ideia pareceria até plausível até a alguns de seus opositores. Em outros tempos, poderia se pensar em quem seria o autor dessa distopia que se parece com muitas das que foram publicadas em Pós-guerra. Porém, levando em consideração o que se vê nesse início de governo com o ministro DA EDUCAÇÃO, numa fala mal-educada chamando os brasileiros de  “canibais” e “ladrões” e propondo que a solução não passa por investimentos , gastos com melhoria a estrutura escolar “não, senhor”. Para o senhor digníssimo Ricardo Vélez, o problema educacional só vai ser resolvido quando todos os brasileirinhos desde a tenra idade, souberem cantarem o hino todo. Mas, se é difícil entender em que margens ouviram do Ipiranga, como vão lá saber ...