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País em frangalhos #28

Se amanhã o homem responsável por guiar a carroça de roda quadrada do Brasil, anunciasse um programa com pretensões de proteger o país do inimigo estrangeiro, com o nome “Brasil seguro”, que lhe dá o direito de prender qualquer cidadão considerado inimigo da nação, a ideia pareceria até plausível até a alguns de seus opositores. Em outros tempos, poderia se pensar em quem seria o autor dessa distopia que se parece com muitas das que foram publicadas em Pós-guerra. Porém, levando em consideração o que se vê nesse início de governo com o ministro DA EDUCAÇÃO, numa fala mal-educada chamando os brasileiros de  “canibais” e “ladrões” e propondo que a solução não passa por investimentos, gastos com melhoria a estrutura escolar “não, senhor”. Para o senhor digníssimo Ricardo Vélez, o problema educacional só vai ser resolvido quando todos os brasileirinhos desde a tenra idade, souberem cantarem o hino todo. Mas, se é difícil entender em que margens ouviram do Ipiranga, como vão lá saber o que é “o lábaro que ostentas estrelados” Isso, sem o S. E com as peripécias de um homem que para a esquerda, brincou de ser tolo e ganhou a faixa presidencial como recompensa, o senso de normalidade cresceu a um nível em que pode tudo, ou quase tudo, meninos não usam rosa, nem meninas azul. 
Com esse programa, o governo poderia frear à imprensa de um modo mais eficaz e elegante como na minissérie australiana “Secret City” e não com a tentativa frustrada que tentou fazer, quando o presidente em rede nacional cumpriu o papel que lhe cabia, o de pai que não sabe o que fazer com a criança e diz com os dedos em riste: “Se você falar isso de novo, não te levo pra tomar sorvete”.  
Para nossa sorte, o S. Exa, não acompanha algo que não venha embalado com a bandeira americana e nem há, legalmente, indícios de uma retomada militar do governo, apesar de seis de 22 ministérios estarem ocupados por homens de farda. Ainda assim, há muito com o que se preocupar. A reforma da previdência preocupa (ou deveria) a maior parte da população trabalhadora que sustenta a base da pirâmide, com seu reajuste de contas sem atingir os privilégios dos mais ricos. Esses, que fizeram lobby para a reforma estão a cada dia mais temerosos, com as declarações e recuos do presidente, recuando pautas indispensáveis aos representantes do mercado. A Grande Imprensa liberal, repete erros do passado quando pressiona a saída de um governo para outro que iria recuperar a economia, mas a realidade se torna menos frutífera que a imaginação. Os militares, inclusive o vice, que acreditava poder controlar o boneco do presidente de perto, está a esquerda de zero. Até os superministros, que não são tão super assim, encontram barreiras nas vontades do chefe da nação e repetem o erro primeiro da oposição, que subestimou o louco que gritava ser presidente na internet ainda em 2016. Ele, só escuta mesmo a birra dos filhos.
O ilustre presidente prefere expor ao ridículo todo o país com suas postagens na internet. Se em algum momento houve motivos para sorrir sem graça para seus discursos absurdos, isso já passou, faz muito tempo. A série de presepadas do chefe da nação e sua trupe poderia calhar o nome de Zorra Total, mas de muito mais mau gosto do que o programa da Globo. A ressaca de carnaval fica ainda maior, pois já passou a quarta-feira de cinzas e o homem fantasiado de presidente não tira a faixa e ainda comanda o bloco do país por um computador do Alvorada, onde sabe se lá o porque, o Twitter ainda não foi bloqueado.


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