Você não conhece a palavra saudade. Não conhece o sentimento calado que jorra por entre as veias de quem lhe escreve essas linhas. A língua do beijo nem sempre se comunica da maneira correta. Agora me vejo aqui pensando nas noites que passamos juntos por entre as ruas de pedra sabão conversando em um inglês carregado. O seu carregado de alto e baixo alemão e flexões radicais. O meu carregado de um sim, eu digo sim, eu quero sim para qualquer coisa que você sugeria, como se minha obrigação fosse mostrar todos os arredores e contar todas as histórias de um lugar nunca visto, como aquele que inventa uma informação para não dizer que não sabe. Mas agora eu sei. Depois de todos esses anos eu sei. Sei que o bilhete escrito a lápis e dobrado cuidadosamente na minha cama era o prenúncio do fim de um amor que ainda não começara. Ainda não sei o livro que não consegui identificar o título que você lia pacientemente enquanto carregava consigo o gesto polido e os olhos calmos de quem sabe mai...
E ela passa... Há todo um frisson, um lamento, um grito seco que preenche o espaço por alguns segundos. uma bola passou a quatro centímetros da trave esquerda de um jogo de futebol. No outro dia, estarão discutindo aquele lance em diversos ângulos e sempre sisudos, com expressão grave, como se tudo naquele intervalo do dia assumisse a irresponsabilidade de um gol perdido. Como se gosta de criar emoções e sempre à procura de sua própria briga de galos. E depois registrar. Sempre registrar e inventar uma nova possibilidade de descoberta efêmera. Sempre à procura de criar emoções em suas diversas formas. É assim também com as artes como tudo, sempre uma insensatez, uma exortação, uma briga de galos. E existem tantas. É sempre no passado aquele orgasmo. Os dias passam passam. Há muito que se fazer daqui e dali, mas tudo seguem num ritmo como se nada passou, como se as horas tivessem sido usurpadas. A vida é longa mas o tempo míngua. Penso no livro de Carolina e no presente aquel...