O que matou nosso amor foi um nome. Não foi um gesto obsceno, um grito de pavor ou um tapa desferido sem querer em um de nossas brincadeiras. Não foi seu gosto musical que seguia o ritmo enfadonho do rock dos anos 80 aos hits sertanejos chicletes, enquanto eu mantinha inviolável nas mesmas batidas de hip-hop. Não foi o meu ciumes por sentir os olhares de homens mais maduros com uma vida feita enquanto andávamos lado a lado, nem sua insegurança quando eu saía com amigos para beber ou quando eu precisava perguntar algo para uma jovem atendente da sorveteria. Também não foi porque você gostava de sorvete de chocolates, com recheio de chocolate e uma calda quente, adivinha, de chocolate, enquanto eu sentia náusea de olhar para qualquer massa gelada que não fosse de fruta.
Eu tenho provas que comprovaria que o que matou nosso amor foi um nome de cachorro. Não foi a opinião dos outros que lhe dizia estar errada por namorar alguém com oito anos de diferença de idade, nem foi a minha fala sobre seus shorts curtos, nem foi o desejo fabricado de uma outra nossa colega de trabalho, que me fazia rir e te deixava irritada. Não foi suas constantes mudanças de humor que me deixava com os olhos pregados no celular, esperando o fim a qualquer momento. Não foi a minha frieza premeditada, a minha pouca expressividade, a minha insegurança de me mostrar verdadeiro, solitário e carente, e você fugir. Não foi a minha fumaça transfigurada entre cigarro e maconha e sua vontade de fumar um cigarro de palha escondida da filha.
O nome de um cachorro da tia da cunhada da irmã dela foi com certeza a causa do fim. Não foi a sua escolha entre comédia romântica e a minha que pairava em filmes de gangster psicopatas. Não foi o seu desejo de viver a vida que está levando, alugar uma casa maior e passar em um concurso público, enquanto eu voava com os pés pensando na nossa viagem ao Peru ou imaginava conseguindo um cargo muito importante que sequer existirá. Não foi a sua repulsa em ouvir quaisquer críticas e transformá-las em um término abrupto, nem meu cérebro obsessivo a partir desse comportamento que começou a bater na porta da sua casa do nada, mesmo tendo que cruzar a cidade inteira a pé. Do nosso sexo, não há mesmo o que falar.
Bornerges. Eu tenho absoluta certeza que foi meu sarcasmo no dia que você bateu o pé que esse nome era perfeito para um buldogue obeso preso na genética de um pitbull. Um nome ridículo, mas que não precisaria ser tão pontuado, nem ser motivo de riso, ainda mais morando em Minas, no sul para ser mais exato, o nome ao ser dito pareceria que estamos visitando um parente caipira meio desmiolado ou que estamos tendo um derrame ao dizer. Minha língua está suja. Preciso cortá-la.
Aline
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