Bah, que diversidade é ser e ter amigo. Alguns estão distantes, vivendo lá no fundo da memória que conserva tudo e deixa o passado tão lindo! Parece tão legal as brincadeiras de infância, batendo bola na rua, trocando figurinhas, enchendo o saco do outro porque pisou no chiclete. As cartinhas de amor, sem os amigos para admirar, implicar, invejar, rir e duvidar da letra, mesmo você jurando que é dela, não daquele seu primo que trabalha de escrivão e tem letra bonita, não servem para nada. Que vale o sim marcado no quadrado desengonçado do "você gosta de mim?", sem eles? Naquela época tudo que se faz é para mostrar que você também é um deles, é um rito de passagem para firmar amizade, ao invés dum desejo qualquer de iniciação amorosa precoce. Quem se importa com isso?
Depois tem outros, uns que mudam de cidade, outros que continuam lá ainda mas você quem mudou e já não tem mais conversa, tantos que por um segundo a mais no balanço do parque, o encontro que não aconteceu faria de vocês grandíssimos amigos.
Às vezes, fantasio amizades que nunca existiriam, ídolos são ídolos por razão vária, amigos são amigos, sem se fazer entender. Penso, como seria ser amigo da Beuavoir, do Camus, do Gógol, mas que amigos seriam esses? Certamente teria amigos gênios, mas não é pra isso e nem por isso que se tem amigos. Amigo é pra ouvir uma história boba, jogar FIFA até de madrugada e ir pra cozinha falar besteira e comer pizza de cueca. Outros são mais certos, te ajudam na faculdade, ouvem e dão conselhos racionais. Não fume, não beba, não morra. São ótimos amigos, mas pra mim a amizade sobrepõe a ética. Tenho valores morais, mas meus amigos estão acima. É impopular, eu sei. Mas entenda, quem escuta minhas ladainhas e piadas ruins (e ainda riem, pasmem) são eles, não são os livros de Aristóteles e sua ideia de vida honrada.
Um brinde aos amigos, aqueles que no balanço final, te deixam mais pobre, talvez mais burro, certamente com menos amores por rirem da cara dela e te fazer passar vergonha, mas bah! Um brinde a eles e um tilintar de copos sujos com aguardente-acetona, porque bebida boa a gente bebe pra impressionar um superior ou um amor, com os amigos tá em casa, o amargo se transforma em mais gargalhadas idiotas.
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