"Ô Rita! Quando é que você vai mudar para o condomínio da Vila Esperança?" A bolsa Chanel vermelha era de uma prima do marido que comprou num Duty Free e esquecera na visita aos parentes, e agora era ostentada no colo com o símbolo dos "C" se cruzando sempre virado pra frente.
"Como assim? Vem pra cá, aqui é perto de tudo! Tem um Shopping do lado e um salão de festas a duas ruas de casa." A mão com alguns anéis com um dourado já riscado, segurava uma cigarrilha com um cigarro apagado prestes a pegar poeira no tabaco. "Não, não, a festa do Miguel vai ser no Salão tipo o Fasano, na zona sul e tudo. O daqui é muito pequeno, é bom só de saber que tem mesmo por perto."
O jornal do dia dobrado do mesmo jeito que fora deixado no jardim, agora ocupava a sala perto da mesa de canto e servia de privada para o cachorro. "Rita, porque você não arruma um pra você também, acho que vai fazer bem." O shake de framboesa quase caíra no tapete que se fazia de persa. "Quê? Não, estou falando de um shit-zu como a Layla ou um bulldog. Tenho uma conhecida que tem um tanto, você devia ir lá olhar e deixar o vira-lata pra adoção''.
"Então menina, a gente teve que adiar Cáncun para o fim de ano. Você não sabia? A Marcela tá gravida faz umas quatro semanas e mês que vem a gente já vai pra Miami pra comprar a roupa do bebê". O FaceTime apita, quem seria?
Quero ir na cozinha para pegar um pouco de água sem ser visto. Tarefa difícil já que tenho de passar pela sala e o olhar da senhora que fala gritado e torce o tronco para trás em mais uma gargalhada falsa.
"Sim, ele já tá um homem!" A voz chegou ao meu ouvido, virei sem graça e acenei com um meio sorriso.
No sussurro: "Rita, ele tem algumas ideias de salvar o mundo, de virar artista, coisa de jovem, né? como se o dinheiro não importasse, mas certo dia ouvi por aí que tinha vontade de morar em Portugal".
Risos.
"O pai dele quer só que ele arrume um emprego qualquer, aí dá certo aquela nossa viagem pra Paris, logo, logo".
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