Você que acha que comer carne é ético? Como assim? Eu nem sabia o que era ética em 2010, imagina se se alimentar um animal morto para satisfazer os desejos do paladar mais sádico e ainda recheá-lo de queijo era o mais correto. Era um camping de férias, eu só tava tentando me alimentar e a garota líder da equipe verde da gincana me fez essa pergunta olhando com a cara de nojo. Depois daquela hora, o final de semana inteiro fiquei andando sozinho e na barraca o maior tempo possível para não pisar numa lagartixa ou tapear um pernilongo sedento.
O tempo passou, deu tempo para googlear o que era ética e ver mais gente falando sobre "vegan is the future". Eu tinha que parar de comer vaca, porco, galinha, peixe-frito, lagosta (mentira, isso eu nunca comi) e até fandangos de presunto eu tive que abdicar pelo bem da causa. Meus amigos do movimento vibravam seus copos de chá de pêssego e tortas de berinjela com soja. Eu só usava algodão, minha carteira era de couro falsificado, muito mais cool do que o jacaré da lacoste. No início, tudo parecia com gosto de plástico velho, mas como não queria me compactuar com o-assassinato-de-seres-que-também-tem-direito-a-vida, valia a pena, não haveria sofrimento. Um tempo depois, com esforço parei com o iogurte, o sorvete, o mel com granola (só com mel, a granola ainda era permitida mas era mais indicado a semente de girassol).
A cabeça dormia tranquila, a não ser no verão de janeiro. Os pernilongos eram tantos com suas kawasaki-ninja como se os tímpanos fossem a linha de chegada. O tempo passava rápido, aprendi a conviver com as baratas, as moscas e perto da porta da cozinha havia um casa de ratos, depois de um tempo parei de colocar o gorgonzola (o que eles mais adoravam) e substituí por pão com gergelim, afinal só daria certo se todos fossem veganos. Tudo ia bem, até que o jornal noticiou que um pequeno grupo de Bucareste havia anunciado uma nova luta, o direito das plantas!
O amendoim-japonês raspou a garganta com o sal. A partir daquele momento com o pacote pela metade, eu era um assassino em potencial. Abri o celular, de todas as redes sociais pipocavam manchetes e vídeos da nova postura frente a vida. "Não ao extermínio verde". O alimento agora seria à base apenas de plantas mortas e frutas caídas.
Corri para o armário e joguei todo o cacau em pó no ralo. A caixa de verduras estava abarrotada de cadáveres. Com o alface nas mãos, olhei para o canto da porta. De olhos semicerrados um rato antenado me fuzilou com o olhar.
Corri para bem longe e agora escrevo esse texto, publico-o agora com medo da futura descoberta que as máquinas também sentem e quero afirmar desde já que sou contra a exploração dos computadores.
A cabeça dormia tranquila, a não ser no verão de janeiro. Os pernilongos eram tantos com suas kawasaki-ninja como se os tímpanos fossem a linha de chegada. O tempo passava rápido, aprendi a conviver com as baratas, as moscas e perto da porta da cozinha havia um casa de ratos, depois de um tempo parei de colocar o gorgonzola (o que eles mais adoravam) e substituí por pão com gergelim, afinal só daria certo se todos fossem veganos. Tudo ia bem, até que o jornal noticiou que um pequeno grupo de Bucareste havia anunciado uma nova luta, o direito das plantas!
O amendoim-japonês raspou a garganta com o sal. A partir daquele momento com o pacote pela metade, eu era um assassino em potencial. Abri o celular, de todas as redes sociais pipocavam manchetes e vídeos da nova postura frente a vida. "Não ao extermínio verde". O alimento agora seria à base apenas de plantas mortas e frutas caídas.
Corri para o armário e joguei todo o cacau em pó no ralo. A caixa de verduras estava abarrotada de cadáveres. Com o alface nas mãos, olhei para o canto da porta. De olhos semicerrados um rato antenado me fuzilou com o olhar.
Corri para bem longe e agora escrevo esse texto, publico-o agora com medo da futura descoberta que as máquinas também sentem e quero afirmar desde já que sou contra a exploração dos computadores.
Comentários
Postar um comentário