2880 horas. Parece muito mas de perto é pouco tempo. E depois, o que vai acontecer? Perderei cidadania e andarei como refugiado atrás de algum lugar pra chamar de pátria. Não quero pensar em minutos. 172800. Só um minuto numa aula desinteressante ali, outros mais tantos na conversa no almoço do R.U. comendo bobagens, falando besteiras. Depois o outro dia passa e a noite ajuda a esquecer. Lembra quando a gente era jovem e invencível? A gente falava, ria, bebia, fumava, beijava, fingia, às vezes estudava mesmo, jogava, lia, dormia, ria mais um tanto, como a gente era bobo! De vez em quando a gente transava, mentia, viajava, se abraçava, emocionava, prometia que nada acabaria, que ia fazer uma tatuagem ou cheirar uma carreira na bunda de uma prostituta como naquele filme da TV. 10368000. Todos esses segundos pra dizer que a vida continua. Dizem que vou conhecer mais gente, encontrar um amor e talvez viajar pelo mundo. Que a vida é seguir em frente, e o que ficou para trás, não vale a pena ver no retrovisor. Sentir falta. Haverão outras coisas, outras pessoas, outros sentimentos, mas nunca os mesmos. Os bancos do V vão ficar lá, mas nunca vou mais voltar para ocupá-lo às 18h para ler ou espiar os outros antes da aula. Os amigos vão lembrar por um tempo das histórias, mas depois de um tempo eles também vão embora com suas histórias e haverão outros chegando no tempo cíclico, ocupando meu lugar do lado direito da sala e a casa da Dona Maria. A bomba vai explodir e agora só faltam 10367516 segundos.
Não consigo me reconhecer. Cumpro a cartilha às avessas de tudo aquilo que forjei ser meu domínio, minha índole. Lembro que até pouco tempo, lamentava profundamente ter de me relacionar com conversas banais e carinhos avulsos por algumas noites, para no outro dia, amargar uma ressaca de não resistir em relações da carne. Como a música, a literatura, o cinema, a teoria crítica não me bastava? Meus relacionamentos mais duradouros sempre operaram na lógica de flerte e conquista, para desaguar em contato sexual apenas uma ou duas vezes por mês. Nesse meio tempo, mantinha um contato frio, era meu jeito, nunca consegui ser romântico e a humilhação pública do amor me nauseava. Não havia maiores sentimentos que passassem a figura do cômodo, de não ser um completo párea, de agradar alguém no mundo e produzir um parco desejo nesse outrem. Sempre coloquei minhas aspirações primeiro, sendo elas altas, nobres e lúcidas ou inúteis, apenas para comprovar que só eu me governo e nenhuma infl...
Comentários
Postar um comentário