É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer. Esses dias dei de sonhar em ter um filho ou uma filha, o gênero não importa tanto, nem a mãe, nem a idade e nem o pior desgosto que um filho pode dar ao pai, torcer pro time rival. “Mas, você acabou de chegar na fase dos vinte, cadê o emprego estável, o relacionamento estável, o governo estável pra pensar nessas coisas?” Só o que fica estável é o que está morto. Porém, caro leitor, uma pergunta mais auspiciosa que a de cima que também fico me perguntando é se: “Serei do time daqueles que tem capacidade de ser pai?” Acho que ser pai ou mãe é igual um relacionamento monogâmico, alguns realmente não nasceram pra isso.
Às vezes fico pensando no menino lendo na minha escrivaninha e na menina jogando bola dentro de casa, em quando eu ensinar ela a andar de bicicleta e ele a fazer barba. Em quando ele ou ela vir me pedir conselhos sobre o sentido da vida e coisas da metafísica, com o olhar arregalado esperando de mim a resposta pra tudo, desde porque hoje choveu mais cedo e porque os bichinhos de estimação dormem pra não acordar nunca mais.
Mas o mundo aguenta mais uma vida? E quando me perguntar do porque tem gente que não tem casa pra esconder da chuva ou porque um coleguinha da sua idade vende bala no sinal? Além do que, não queria ter de explicar o aquecimento global, as mortes na favela e as idiotices do presidente.
Tem horas que eu não acho que consigo cuidar de mim, o cacto que eu tinha morreu, como vou fazer com uma criança? Depois tem o trabalho exaustivo, a bronca que eu não vou gostar de dar, até que a criança se desabroche num jovem numa cisão com os pais inevitável e eu tão progressista, serei o careta, que já não entende mais nada do mundo.
E se for um babaca? Bato na boca três vezes, deus me livre! O absurdo da vida é isso, não saber se vai ter filho amanhã ou nunca mais, mas imaginar os trejeitos e a cor dos olhos do filho que talvez queira ter. Baby shark doo doo doo doo é um caminho sem volta.
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