O pai segurava entre os dedos engordurados a coxa quase inteira já dentro da boca. A filha cortava o resto do frango em pedaços para o jantar. A mãe colocava mais um pouco de arroz no prato do pai. Batidas no portão. Silêncio.
Talvez fosse o vento ou um cachorro que esbarrara a cabeça no metal procurando de onde vinha o cheiro de carne morta assada, a mãe pensou. Todos concordaram com um leve abaixar dos olhos, a coxa de frango segurava a boca do pai aberta, estática.
Novas batidas, dessa vez o filho chamara os pais pelo nome. Olhos enormes e um sorriso de canto lhe abriram o portão. Entrou, a irmã viera com um prato de arroz e feijão e o pedaço de frango que o pai segurava entre dentes. O homem mais velho levantou e pediu para que ele se sentasse na ponta da mesa. Desde a noite anterior o visitante não comera nada além de uma maçã murcha que carregava consigo na bolsa a tiracolo. Toda a família olhava de soslaio para o estranho na mesa. Depois de se satisfazer e limpar a boca na toalha de mesa branca, esse sem dizer palavra, levantou e procurou sua antiga cama. O sol era o mesmo a refletir no espelho e bater na sua cara como quando criança, mas não era igual. Não era igual.
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