Nunca rezo antes de dormir. Acordei cedo naquele dia e vi sua face sorrindo para mim. Estávamos alguns quilômetros de distância, mas era detalhe. Palavras frenéticas ditas pela tela, olhares vermelhos de vergonha no encontro desconhecido. Como será a voz dela? O que será que ele está pensando? Gritos de consciência que nunca foram ditas em voz alta.
Cúmplices de um mesmo crime, contando histórias do passado e desesperanças que ainda não tinha vindo e talvez, nunca viessem. Selvagens à procura de nenhuma lei que nos tirasse daqueles momentos de risadas ainda contidas e beijos sem língua. Os dias passaram rápidos demais e os encontros se tornaram escassos na ânsia de não gastar todos os momentos de uma só vez, sobrou o desencontro da partida. Não, não há espaço para arrependimentos de frases que não foram ditas e hoje já estão esquecidas. Não, não tocou Despedida no nosso último encontro, ela preferiu me ouvir falar, falar e falar sobre todas as referências que ninguém quer ouvir de um banda qualquer. Queríamos falar e ouvir o máximo enquanto a luz do poste atravessasse o vidro da janela do meu quarto, como se cada palavra deixasse o sol mais acanhado para chegar e levá-la embora.
O dia chegou e ela partiu, levando o perfume que ficou na minha camisa e me deixou com os olhos que nada vê, mas que me encara várias horas por dia, pouco acima de minha escrivaninha. Lembrar é viver o que já não é. Mas, o livro que levo todos os dias para a cantina da universidade, me olhará e talvez até diga com desdém, "Minas são muitas..." Já sei Guimarães Rosa, mas lhe pergunto se não há algumas melhores de serem lembradas do que outras. Acaba o capítulo e não me responde. Tá, também entendo que ela nem outras irão fugir comigo, mas há de haver madrugadas à beira da praia. Fique bem, fique linda!
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