Quase uma da manhã. Acaba a bateria do computador e fica para outro dia o curtametragem que eu assistia. Tiro de dentro do esconderijo na mochila a caixinha amarela, o dromedário me olha de esguelho, como quem diz: "Este produto causa câncer, pare de fumar!" Volto os olhos para minha mão e ironizo: "Não aceito conselhos de um dromedário que se acha um camelo". Sigo adiante com o plano.
Vou a cozinha e risco o isqueiro, a faísca sai tímida e nunca se transforma em chama. Volto para o quarto para elaborar um Plano B. Novamente na cozinha, perto do fogão prestes a fazer fogo, minha avó sai do quarto e eu bebo um copo d'água, depois de já ter bebido uma garrafa aquela noite. Na volta, ela me encara e não diz palavra. Penso nas palavras insinuadas pelo dromedário, mas já estou segurando um camelo entre os dedos médios. Acendo o fogão e depressa coloco o cigarro no fogo, num passo só já estou no meu quarto, com o coração acompanhando a velocidade dos pés e os olhos torcendo para que a porta de nenhum quarto se abra.
Fechado no meu, percebo que não há mais fogo no papel. Penso em desistir, mas meus passos nus já estão pisando no piso branco. Acendo outra vez a chama do fogão e o cigarro, mas agora dou uma longa tragada para garantir que o fogo não irá se apagar.
Com a fumaça lutando para fugir pela garganta, cuspo a para rua. Ali, no beiral da janela, fico observando o fim da rua sem saída. O cigarro queima mais na mão do que nos lábios. Jogo a prova do ato rente ao passeio de casa e sopro mais algumas fumaças brancas nessa noite fria de inverno. Deixo a janela aberta por um tempo para que o cheiro se confunda com o barulhos dos ventos que vem de fora.
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