Um dia, um homem descobriu que havia vida fora dali onde morava, trabalhava e convivia com muitas outras pessoas. Nem ele mesmo sabe se foi pelos livros que leu, ou pelas histórias que viveu, mas um dia, parou e pensou: "Deve haver vida fora da caverna". Não fora o primeiro a ter esse pensamento, nem seria o último, mas depois de um tempo passou a se angustiar com a confortável vida que vivia ali na caverna. Quanto mais investigava, mais entendia a podridão do mundo à sua volta e cada vez mais caminhava para a saída da caverna. Com isso, passou a sentir avesso as conversas, experiências e sensações que provocavam a vida na caverna, que sempre lhe pareceu muito boa.
Entendeu que o mundo ideal que lhe pintavam quando era criança, só existia na tela que ficava na sala de sua caverna, quase sempre ilusória e também num pequeno grupo de cavernas, diferente das outras. Quando saiu da sua caverna e percebeu que havia outras, maiores e menores, descobriu também que havia outros homens e mulheres que viviam por fora de algumas cavernas e isso provocou-lhe uma sensação de angústia, mas as pessoas quem lhe eram próximas e a tela, desconversavam a questão. Para eles, as pessoas que não viviam nas cavernas só viviam por ali porque queriam, ou melhor, porque não gostavam de trabalhar e queriam ganhar cavernas e privilégios a custa dos trabalhadores.
Decidiu então, sair da caverna. Seus pais tentaram persuadi-lo, mas parecia que o homem estava convicto em deixar toda a aquela regalia e conhecer a realidade. Saiu, andou por alguns quilômetros e sentou próximo a um grupo que parecia morar fora das cavernas. Já anoitecera e pela caminhada à tarde e a discussão há poucos com os pais, lembrou-se que não comera. O grupo tinha pouco, mas compartilhou o alimento com o novo integrante. Após um tempo, foi deitar na pedra ao lado de uma grande caverna, as costas doíam, mas pensou que aquilo não era nada, comparado a liberdade de viver fora da caverna. Acordou, com as costas ainda doendo e com um brilho ardente nos olhos, sonhara no momento, aquilo deveria ser a liberdade que tanto lera e refletira sobre o viver fora da caverna. Não, eram algumas pessoas vestidas com roupas idênticas que berravam num megafone e colocavam fortes lanternas nos rostos do grupo, enquanto passavam pessoas com roupas extravagantes por cima de suas cabeças. Na confusão, conseguiu correr e depois de vagar por um tempo, viu que novamente estava de volta a caverna onde morava com os pais. Entrou, sua mãe correu para abraça-lo trazendo consigo uma forma com muitos biscoitinhos e um copo grande de suco de uva. O homem devorou tudo num instante e depois sentiu novamente o bem-estar da agua morna caindo em sua cabeça e do cheiro de lavanda de seu corpo.
À noite, de volta a uma colchão espaçoso e cobertores confortáveis, novamente se revoltou. E na manhã seguinte, novamente voltou as ruas. Mas na outra noite, voltou novamente para a antiga caverna. Depois de um tempo, seus pais se acostumaram e nem se importavam com o homem que sempre saia da caverna mas após um tempo não conseguia desprender-se da sua cama e num circulo vicioso, voltava a dizer e contradizer-se, mas todas noites quando deitava na cama, se angustiava consigo mesmo, dia após dia...
Comentários
Postar um comentário