A água não é fria. Os primeiros movimentos carregam a ansiedade de chegar ao fim dos longuíssimos treze metros. Há alguns meses, não no mesmo cenário, a água gelada e espessa quase sorveu o último suspiro. Respira. Apertar a fivela de borracha na touca negra. Por mais tempo que demore, o impulso não furta de ser impaciente. Silêncio e o balançar de membros inferiores e superiores em uma direção reta. Três braçadas. Cabeça torta para o lado. Respira.Os movimentos apressados demonstram uma insegurança, mas o corpo bóia e avança. Três braçadas. Ou terá sido apenas duas? Boca aberta na busca de uma direção que seja a oposta da primeira. Os óculos estão embaçados, mas a água no azulejo azulado e as vozes de uma mãe avisam no exato momento que a mão toca a superfície sólida. Não foi tão ruim assim. Mergulho. Mais silêncio, um silêncio maior de como se tudo não existisse, apenas um som surdo que só é eliminado, antes do desespero tomar a conta e o medo de que talvez o corpo não vol...
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