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Mostrando postagens de outubro, 2022

Pra você dar o nome

 O que matou nosso amor foi um nome. Não foi um gesto obsceno, um grito de pavor ou um tapa desferido sem querer em um de nossas brincadeiras. Não foi seu gosto musical que seguia o ritmo enfadonho do rock dos anos 80 aos hits sertanejos chicletes, enquanto eu mantinha inviolável nas mesmas batidas de hip-hop. Não foi o meu ciumes por sentir os olhares de homens mais maduros com uma vida feita enquanto andávamos lado a lado, nem sua insegurança quando eu saía com amigos para beber ou quando eu precisava perguntar algo para uma jovem atendente da sorveteria. Também não foi porque você gostava de sorvete de chocolates, com recheio de chocolate e uma calda quente, adivinha, de chocolate, enquanto eu sentia náusea de olhar para qualquer massa gelada que não fosse de fruta.  Eu tenho provas que comprovaria que o que matou nosso amor foi um nome de cachorro. Não foi a opinião dos outros que lhe dizia estar errada por namorar alguém com oito anos de diferença de idade, nem foi a minh...

O ser e a estupidez

 Não consigo me reconhecer. Cumpro a cartilha às avessas de tudo aquilo que forjei ser meu domínio, minha índole. Lembro que até pouco tempo, lamentava profundamente ter de me relacionar com conversas banais e carinhos avulsos por algumas noites, para no outro dia, amargar uma ressaca de não resistir em relações da carne. Como a música, a literatura, o cinema, a teoria crítica não me bastava?  Meus relacionamentos mais duradouros sempre operaram na lógica de flerte e conquista, para desaguar em contato sexual apenas uma ou duas vezes por mês. Nesse meio tempo, mantinha um contato frio, era meu jeito, nunca consegui ser romântico e a humilhação pública do amor me nauseava. Não havia maiores sentimentos que passassem a figura do cômodo, de não ser um completo párea, de agradar alguém no mundo e produzir um parco desejo nesse outrem. Sempre coloquei minhas aspirações primeiro, sendo elas altas, nobres e lúcidas ou inúteis, apenas para comprovar que só eu me governo e nenhuma infl...