A tela sem aviso prévio começa a arrolar um vídeo de um porco, que não se sabe morto ou vivo, caindo com a boca aberta sob a malha de lâminas de aço que vão consumindo seu corpo inerte sem marcas de sangue e num instante, não há qualquer sinal do animal ou prova do ato consumado. O horror! Já nos alertava o Coronel Kurtz no romance de Conrad, transfigurado no filme de Copolla. Sob pena de exercer a violência bruta e antipática digo que me faria mais mal ver o corpo rosáceo do quadrupede deitado no meio da lama. O torpor corrói as estranhas mais sólidas da alma. Não se trata de representação, mas de criação, como bem falou Deleuze. A arte é criação de perceptos e afectos, produtora de sensações que nos faz nos tirar de nós mesmos sem que incorporamos o outro. O tédio é o pior dos castigos que alguém pode sofrer. Por alguma razão ou desvio de conduta, sempre imaginei situações para além do vivido. Por exemplo, ainda me imagino no julgamento sofrendo a pena de um crime qu...
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